Estresse versus Memória Perturbadora

30 de janeiro de 2017

Artigo bastante útil para quem utiliza o EMDR e Brainspotting

Estresse atrapalha a reconsolidação de memórias de medo

Vivenciar estresse pode ser benéfico para pessoas sofrendo de transtornos mentais relacionados a medo e ansiedade. Nova pesquisa publicada no Psychoneuroendocrinology sugere que estresse pode prejudicar fixação de memórias atemorizantes.

O estudo de 72 homens saudáveis investigou como estresse afeta reconsolidação de memória, um processo cognitivo em que memórias reacessadas são reintegradas no cérebro. Durante esse processo, memórias também ficam suscetíveis a revisão e a incapacitação.

Os pesquisadores esperavam que estresse psicossocial iria intensificar a reconsolidação de memórias assustadoras reativadas, deixando-as mais fortes. Ao invés disso, eles descobriram que vivenciar estresse incapacitava a reconsolidação de memórias atemorizantes.

Shira Meir Drexler e Oliver T. Wolf esclarecem: em nosso laboratório na Ruhr-University Bochum estamos interessados em modos como estresse e hormônios de estresse afetam vários processos de aprendizagem e memórias. Esse campo de estudo tem relevância para a compreensão e tratamento de transtornos psiquiátricos, tais como transtornos de ansiedade e TEPT. No estudo atual, investigamos os efeitos de estresse na reconsolidação de memórias de medo.

Reconsolidação é um processo de pós-recuperação de reestabilização de memórias. Recuperação (também chamada de ‘reativação’) de memórias são frágeis a várias manipulações até que o processo de reconsolidação esteja completo. Assim, manipulações em memórias reativadas oferecem benefício potencial para tratamento ex. ao interromper (ou intensificar) memórias desejáveis ou indesejáveis.

Havíamos previamente investigado os efeitos do cortisol, que é o principal hormônio de estresse em humanos, na reconsolidação de memórias de medo. Descobrimos que administração de cortisol produz intensificação de memórias que haviam sido reativadas durante a sessão. Outras memórias relacionadas a medo que não haviam sido reativadas, não foram afetadas. Este é um mecanismo possível para a persistência e força de memórias indesejadas, tais como memórias traumáticas.

Entretanto, em oposição a uma intervenção farmacológica, exposição a um estressor no laboratório é mais semelhante a eventos da vida real, ao promover respostas complexas de estresse. Assim, no estudo atual tentamos investigar os efeitos de estresse suave na reconsolidação de memórias de medo. A memória ainda estaria disponível para manipulação? Ela estaria mais forte ou mais fraca? Nossos resultados mostraram que o estresse incapacita a reconsolidação de memórias de medo. No grupo alvo, que combinava reativação de memória e estresse, a memória do medo era enfraquecida e a resposta ao medo não recaía. Esse efeito era geral, com a incapacitação de memórias do medo que não foram apresentadas durante a sessão. Nos 3 grupos de controle, por outro lado, a memória do medo ainda estava presente, conforme havíamos predito.

O efeito de incapacitação de um estressor suave na reconsolidação de memórias indesejáveis pode ter implicações terapêuticas possíveis para o tratamento e prevenção de recaídas e prevenção de transtornos relacionados a medo e ansiedade. Atualmente, a taxa de recaída é razoavelmente mais elevada mesmo depois de tratamento bem-sucedido (ex. terapia de exposição). A generalidade do efeito incapacitante encontrado aqui é de importância especial. A habilidade de generalizar segurança a partir de estímulos apresentados durante tratamento a outros estímulos é crucial para a prevenção e recaída fora da clínica. Por exemplo, em um tratamento contra fobia a aranhas, é preferível que a redução do medo alcançado com êxito para uma espécie de aranha se generalize para outras espécies de aranha também.
Não está claro porque a manipulação atual de estresse levou a efeitos opostos, comparada a nossa manipulação prévia usando cortisol. É provável que as características únicas da resposta de estresse e vivência, comparadas à intervenção farmacológica sejam a razão para esses achados opostos. Isso tem que ser investigado em estudos futuros.

Outra questão importante aqui são as possíveis diferenças de gênero. No estudo atual testamos apenas homens. Entretanto, mulheres sofrem risco maior de sofrer de transtornos relacionados a ansiedade em comparação com homens, de modo que homens e mulheres podem responder diferentemente a tratamento similar. Os achados de nosso estudo sugerem um método potencial para incapacitar memórias indesejáveis na terapia. Ainda assim, temos que ver se efeitos similares podem ser observados em mulheres.

É comum focar somente nos efeitos prejudiciais do estresse para nossa saúde física e emocional. Entretanto, temos que nos lembrar de que a resposta de estresse é normalmente adaptativa, uma vez que nos ajuda a responder aos desafios da vida e a nos preparar para eventos futuros.

Às vezes descobrimos que estresse e hormônios de estresse poderia nos ajudar de modos inesperados. Por exemplo, novos estudos sugerem que cortisol pode melhorar o sucesso de terapia de exposição para pacientes ansiosos, ao tornar a memória de segurança (que é formada durante o tratamento) mais forte e mais duradoura. Além disso, em nosso estudo atual demonstramos outro jeito por meio do qual estresse pode ser usado para enfraquecer memórias indesejadas e, possivelmente, melhorar nossas vidas.

Tradução da Equipe do Espaço da Mente

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