O TEPT e a questão de Gênero

14 de dezembro de 2016

Este artigo sobre TEPT aponta aspectos relacionados ao TEPT e gênero, tema relevante para quem aplica o EMDR.

Estresse Traumático muda o cérebro de meninos e meninas de jeitos diferentes

Meninas adolescentes com TEPT aparentam passar por maturação acelerada em uma região do cérebro que integra emoções e ações. Estresse traumático afeta os cérebros de meninos e meninas de jeitos diferentes, de acordo com novo estudo da Stanford University School of Medicine.

Um estudo encontrou diferenças estruturais em uma parte da ínsula entre jovens com TEPT. A ínsula é uma região do cérebro que detecta dicas do corpo e processos ligados a emoções e empatia. A ínsula ajuda a integrar as emoções da pessoa, as ações e várias outras funções cerebrais.

Os achados foram publicados on-line em 11 de novembro de 2016 no Depression and Anxiety. O estudo é o primeiro a mostrar essas diferenças estruturais. “A ínsula aparenta desempenhar um papel chave no desenvolvimento de TEPT”, afirma, Victor Carrion, professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Universidade de Stanford. “A diferença que vimos entre os cérebros de meninos e meninas que vivenciaram trauma psicológico é importante porque pode ajudar a explicar diferenças em sintomas de trauma entre os sexos”.

Ínsula menor em meninas traumatizadas

Entre pessoas jovens que são expostas a estresse traumático, algumas desenvolvem TEPT, ao passo que outras não. Pessoas com TEPT podem vivenciar flashbacks de eventos traumáticos: podem evitar lugares, pessoas e coisas que as fazem lembrar do trauma; podem ainda sofrer de uma variedade de outros problemas, incluindo retraimento social e dificuldade para dormir ou se concentrar. Pesquisa anterior mostrou que meninas que vivenciaram trauma têm mais probabilidade de desenvolver TEPT do que meninos, mas cientistas ainda não sabe o porquê.

A equipe de pesquisa fez ressonâncias (MRI scans) dos cérebros de 59 participantes, com idades entre 9-17. Trinta deles — 14 meninas e 16 meninos — tinham sintomas de trauma e 29 outros — o grupo controle com 15 meninas e 14 meninos — não apresentavam sintomas. Os participantes traumatizados e não-traumatizados tinham idades similares e QIs. Dos participantes traumatizados, cinco tinham vivenciado um episódio de trauma, enquanto os outros 25 tinham vivenciado dois ou mais episódios ou haviam sido expostos a trauma crônico.

Os pesquisadores não viram diferenças na estrutura dos cérebros entre meninos e meninas no grupo controle. Entretanto, entre meninos e meninas traumatizadas eles constataram diferenças em uma porção da ínsula chamada de sulco circular anterior. Esta região cerebral apresentava volume maior e área de superfície em meninos traumatizados do que em meninos do grupo controle. Além disso, o volume da região e a área da superfície eram menores em meninas com trauma do que entre meninas do grupo controle.

Achados podem ajudar terapeutas

“É importante que as pessoas que trabalham com jovens traumatizados considerarem diferenças de gênero”, disse Megan Klabunde, autora do estudo. “Nossos achados sugerem ser impossível que meninos e meninas poderiam apresentar sintomas diferentes de trauma e que eles poderiam se beneficiar de abordagens diferentes de tratamento”.

A ínsula normalmente se modifica durante a infância e a adolescência, com volume menor visto em crianças e adolescentes quando crescem. Assim, os achados implicam que estresse traumático poderia contribuir para envelhecimento cortical acelerado da ínsula em meninas que desenvolvem TEPT, segundo Klabunde. “Há alguns estudos sugerindo que níveis elevados de estresse podem contribuir para puberdade precoce em meninas”, ela prossegue.

Os pesquisadores notaram que seu trabalho pode ajudar cientistas a compreender como vivenciar trauma poderia influir nas diferenças entre sexos na regulação de emoções. “Ao compreender melhor as diferenças sexuais em uma região do cérebro envolvida em processamento de emoção, terapeutas e cientistas podem ser capazes de desenvolver tratamentos para desregulação emocional que sejam específicos para sexos”, os autores escrevem no estudo.

Para melhor entender esses achados, os pesquisadores dizem ser necessário promover estudos longitudinais acompanhando jovens traumatizados de ambos os sexos ao longo do tempo. Eles também afirmam que estudos que melhor exploram como TEPT pode se manifestar diferentemente em meninos e meninas, bem como em testes que avaliem se tratamentos específicos para diferenças entre meninos e meninas seriam benéficos ou necessários.

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