Entrevista com a Dra. Francine Shapiro – Parte 5
Neurônios que Disparam Juntos
RW – Particularmente quando aprendemos mais sobre as especificidades dos alicerces neurofisiológicos de cada função mental, como as funções das quais você acaba de falar – extinção e consolidação. Isso me lembra o trabalho de Norman Doidge, o psiquiatra e psicólogo da Universidade de Columbia que escreveu o livro sobre neuroplasticidade, O Cérebro que se Modifica (The Brain that Changes Itself). Ele acredita que a terapia de EMDR é um dos grandes avanços em psicologia de seu tempo. Ele diria que há provavelmente um fundamento neuroplástico para cada uma dessas mudanças dramáticas. Ele fala sobre como, quando estamos realmente escutando algo, o cortex auditivo vai produzir acetilcolina. E quando temos uma sensação de prazer ou redução de ansiedade, há um pouco de secreção de dopamina, e é essa combinação de acetilcolina e dopamina que cria o fator de crescimento dendritico do cérebro, que faz com que os dendritos cresçam alguns microns por hora.
Com o tempo, esses dendritos se encontram, e é por isso que um cachorro vai salivar ao som de um sino, depois que aprende que ele será alimentado depois que o sino soar. O cortex auditivo não tem absolutamente nada a ver com a saliva, mas o sino produz a salivação por que esses dendritos se encontraram. Em outras palavras, os neurônios que disparam juntos, se conectam juntos. Durante a terapia de EMDR, há muita coisa que é disparada – a auto-tranquilização e redução da ansiedade está se ligando às velhas memórias e às novas sensações de segurança e novas cognições. Eles de alguma foram se conectam, e isso de fato substitui a antiga ligação. Eu acredito que, em determinado momento, nós seremos capazes de confirmar isso no nível molecular.
FS – Eu penso que, no final das contas, é para onde essa área está se encaminhando, mas a área de neurofisiologia ainda está engatinhando, de forma que até agora ninguém jamais visualizou uma rede de memórias. Mas existem mais do que dúzias de estudos mostrando como o cérebro funciona antes e depois da terapia de EMDR, e você pode ver muita diferença, entre elas o crescimento do hipocampo, assim como mudanças da ativação límbica depois da terapia de EMDR. Provavelmente ainda levará outra década ou mais para descobrimos porque e como isso ocorre, uma vez que a produção de imagens terá que ser muito mais sensível.
RW- Eu acabo de ler, acho que na revista Wire, que as novas máquinas de Ressonância Magnética podem permitir visualização com detalhamento 10.000 vezes maior do que as atuais, assim elas podem realmente ver o impulso eletrônico movimentando-se pelos neurônios. Isso não é uma loucura?
FS- Sim. Nós podemos esperar por uma nova década muito animadora.
RW- E quanto aos críticos que acreditam que a pesquisa é frágil pode depende de variáveis auto declaradas? Me faz pensar como as inovações são aceitas em qualquer área, mais particularmente nas áreas de ciências. Existem os primeiros seguidores, que são somente uns poucos, depois os seguidores intermediários que ouvem falar, e depois tem aquele ponto crucial onde todo mundo pula para dentro e incorpora o novo aprendizado ou a inovação. Parece-me que você está trabalhando com isso há mais de 25 anos. Em que estágio você acha que estamos nessa curva de adoção da inovação?
FS- Acho que estamos no último estágio agora. Esses críticos aos quais você se refere estavam reagindo a pesquisas realizadas há 15 anos atrás. Neste momento, existem mais do que 25 ensaios clínicos controlados randomizados que demonstram os efeitos positivos dos movimentos oculares, e uma meta análise recente mostrou um efeito significativo. De fato, um dos primeiros críticos veementes do EMDR mudou completamente de idéia e afirmou que os movimentos oculares claramente demonstraram sua eficácia. Críticos que fazem afirmações derrogatórias estão defasados no tempo.
O mesmo ocorre com a pesquisa sobre a eficácia do EMDR. Existem hoje mais do que duas dúzias de ensaios randomizados que demonstraram os efeitos positivos da terapia de EMDR com todos os sinos e apitos de boa pesquisa, incluindo medidas padronizadas, entrevistas, etc. A Organização Mundial de Saúde até mesmo declarou que a terapia cognitiva focada no trauma e o EMDR são as únicas abordagens de psicoterapia recomendadas para o tratamento de TEPT ao longo da vida do indivíduo. Isso se aplica a crianças, adolescentes e adultos.