Se a sua ideia de um cachorro perfeito é uma representação abstrata de qualidades caninas extraídas de muitos encontros em sua vida, você não está sozinho! E dessa maneira que o seu cérebro conecta memórias, dizem cientistas da Universidade de Oregon.

Um longo debate existe na psicologia se conceitos, como um cão, são representados na mente como uma coleção de cães específicos que as pessoas encontraram ou se os indivíduos podem abstrair as características-chave através de exemplos específicos para formar uma ideia generalizada, ou protótipo, de um cachorro.

Sem conhecer todos os cães que alguém já viu antes, pode ser difícil dizer se as pessoas podem reconhecer um novo animal como um cão, porque dependem de uma comparação com cães específicos, ou melhor, de seu protótipo.
Conhecer mais sobre a capacidade de construir memórias abstratas poderia ajudar os educadores a desenvolver novas estratégias para ensinar conceitos, segundo os pesquisadores.

Em um experimento destinado a descobrir como os conceitos são representados no cérebro, 29 participantes, com idades entre 18 e 28 anos, viram pela primeira vez vários animais de desenho animado como exemplos de duas categorias conceituais cujos membros eram relacionados a famílias chamadas Romeu ou Julieta. Em seguida, os pesquisadores usaram a ressonância magnética funcional para observar os cérebros dos participantes, à medida que viam novos animais de desenho animado inédito e escolhiam qual família era a melhor para cada um.

As respostas revelaram que os participantes devem ter formado e confiado em representações abstratas – os protótipos – dos novos conceitos, relataram Caitlin Bowman e Dagmar Zeithamova do Departamento de Psicologia da UO na edição de 7 de março do Journal of Neuroscience.

Os dados da fMRI permitiram que eles seguissem o processamento em todo o cérebro conforme as decisões eram tomadas. Eles documentaram a atividade no hipocampo anterior e no córtex pré-frontal ventromedial, que era consistente com a recuperação do protótipo, em vez de exemplos conceituais específicos. Este achado sugere que o hipocampo – antes considerado um sistema de arquivamento para memórias específicas de eventos individuais – tem um papel na formação da memória conceitual.

“Tem havido dúvidas se memórias podem ou não ser generalizadas, representações abstratas que são mais do que apenas coleções de itens específicos”, disse Zeithamova, professor de psicologia que dirige o Brain and Memory Lab. “Tem havido poucos estudos que analisaram o cérebro para tentar provocar isso.”

Estudos anteriores tentaram, mas não conseguiram encontrar comprovações para representações conceituais abstratas no cérebro, provavelmente por causa de suas abordagens, disse Bowman, pesquisador de pós-doutorado no laboratório de Zeithamova.

“Descobrimos que ter consistência suficiente, semelhança suficiente em novas experiências, contribuiu para a construção de um pensamento abstrato”, disse Bowman. “Se você só usa pinguins e flamingos como exemplos de pássaros, pode ser impossível formar um conceito coerente de um pássaro.”

No projeto, feito no Robert and Beverly Center for Neuroimaging, da UO, os pesquisadores usaram criaturas artificiais como estímulos para examinar quais características são processadas e lembradas, disse Bowman.

Após o treinamento, os participantes passaram por uma série de testes enquanto estavam no scanner de ressonância magnética. Novas criaturas foram apresentadas com uma cor ligeiramente diferente, forma do corpo, cabeça, pés ou cauda, ​​orientação dos pontos no corpo, padrões de pescoço ou direções que as cabeças enfrentavam.

“Nós assistimos a conceituação em ação”, disse Bowman. “Descobrimos que as pessoas formam essas memórias abstratas unindo exemplos diferentes. Embora se pense que o hipocampo representa apenas memórias individuais, aqui parece funcionar com o córtex pré-frontal ventromedial para criar essas memórias abstratas.”

Pode ser, disse Zeithamova, que o hipocampo permita que as pessoas generalizem.

“Você reconhece que uma criatura recém-vista é um cachorro, porque se parece com o cachorro do seu vizinho ou como aquele que o mordeu no outro dia”, disse ela. “Isso pode permitir que você se lembre de eventos específicos, mas também ajuda a colocá-los juntos.”

As descobertas fornecem novos conhecimentos fundamentais sobre como a memória funciona, disse Zeithamova, e eventualmente poderia levar a novas estratégias em ambientes educacionais que ajudem os alunos a consolidar novas informações com material previamente aprendido para construir mapas cognitivos mais fortes de vários tópicos.

“Tradicionalmente, pensamos que havia uma divisão de trabalho entre os sistemas de memória que nos permite lembrar eventos individuais específicos versus aqueles que nos permitem generalizar através de eventos múltiplos “, disse ela. “Mostramos aqui que o hipocampo contribui para a generalização de conceitos e trabalha com o córtex pré-frontal ventromedial em tempo real para organizar experiências de acordo com suas semelhanças e diferenças”.

Em relação à terapia EMDR, é exatamente a formação e mudança de conceitos que almejamos alcançar, em especial quando falamos da superação de uma vivência traumática que seja generalizada para outros contextos semelhantes. Portanto, entender melhor a formação de contextos nos ajuda a melhor entender a capacidade de nossos clientes ampliar os efeitos do EMDR.

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