O sujeito começa a namorar e não desgruda mais. Tem medo que a parceira o troque por outro e passa a fazer exercício físico de forma compulsiva, para ficar esbelto. Submete-se a uma plástica para que ela o ache mais bonito. No restaurante, a namorada elogia o ator de algum filme, e ele faz um escândalo, porque se sente diminuído e rejeitado. Ela desvia o olhar e ele já interpreta que é para admirar outro homem. No carro, explode quando a mulher parece prestar atenção na foto de alguém em um outdoor. Fica agressivo, abre a porta e ameaça se jogar. As brigas acontecem por qualquer coisa e se tornam desproporcionais.
À primeira vista, pode-se pensar que se trata apenas de alguém exageradamente ciumento. Mas quando ele chega em casa, sente-se tão mal que faz cortes no próprio corpo. Gasta todo o dinheiro em presentes, para que a namorada não o abandone. Bebe demais, usa drogas, dirige perigosamente. Ameaça se matar.
Uma investigação mais apurada pode revelar que essa não é apenas uma pessoa desagradável, exagerada e agressiva, mas sim uma vítima de um grave mal psiquiátrico, o transtorno borderline. Traduzindo para o português, ele é um paciente “limítrofe” ou “fronteiriço”, por apresentar sintomas que se situam na borda entre as neuroses e as psicoses. É um mal que atinge 1,6% da população adulta, responde por 10% dos pacientes psiquiátricos ambulatoriais e motiva nada menos do que 20% das internações. Cerca de 10% dessas pessoas concretizam o suicídio, índice 50 vezes maior do que entre a população em geral.